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A reciprocidade do Toque                                                                                            Reciprocity of Touch 

Texto Crítico escrito pela curadora Núria Vieira 

 

A reciprocidade do toque é a narrativa apresentada pelas artistas Vivi Rosa e Yohannah de Oliveira que sugere o toque como elemento fundamental à criação. Evoca-se a forma redonda. O ciclo. O círculo. Esse é o elemento que figura o arquétipo feminino, que em uma cosmovisão, se apresenta em repetidas vistas durante a exibição. Os círculos vão pairando, em composições distintas, convidando à contemplação de uma pesquisa gestual.

A exposição concentra experiências visíveis e sensoriais no ambiente da casa, de forma a ativar o mais íntimo dos sentidos. E isso se dá, devido a um ponto de partida em comum em trabalhar com o gesto.
 

Na atual exposição, são exibidas esculturas que por ora se agrupam em determinadas regiões, como em um jardim de esculturas, como as obras "Brasiliana" e "Gota" que convivem uma com as outra em harmonia, e por ora as peças são vistas desagrupadas em diálogo com as pinturas-esculturas, que se assemelham a portais, passagens e veículos para o etéreo. Por um adensamento de massa branca e molhada, esse corpo escultórico é sustentado por uma concentração de matéria que se sobrepõe em camadas grossas e que endurecem, e se eternizam em curvas moldadas e esculturais. Ou também pelo escuro, o "Vulcano" que surge como um contraponto visual na primeira sala da exposição.

   Em outros momentos, as topografias da superfície da terra e a superfície da pele se casam em telas que são exibidas nas paredes Os trabalhos ganham nomes de partes do corpo, como "Fêmur" de Yohannah, que parece friccionar a matéria a fim de visualizar o que existe por debaixo da camada dura e seca de um osso, ou de uma montanha. Enquanto as obras "Falo" e "Perninhas" de Vivi, se apoiam na parede que também ganha uma corporeidade surrealista e fantasiosa.

   A mostra também conta com a exibição de um vídeo que revela camadas, muito similares à topografias que se esfarelam e se desfazem. A sua matéria rareia e se espalha de acordo com a manipulação, e justamente quem protagoniza a cena são as mãos que tocam e constroem essa paisagem rudimentar. A densidade branca, das camadas de gesso e de massa revela a dedicação incansável das artistas que pelo estudo de efeitos e mesclagens aplacam suas composições e fazem o espectador se perceber ativando a obra. É do toque ao pó, em movimentos contínuos e descontínuos que atuam metaforicamente as memórias do toque. É que afinal, estamos aqui, condicionados pela nossa eterna condição humana: o tempo, diante da visão da infinita beleza.

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